Kayapó cobraram do presidente da Câmara arquivamento definitivo da PEC 215 | J. Batista - Agência Câmara |
Em reunião com índios Kayapó, ele afirmou que não poderia impedir o
reinício da tramitação da proposta, arquivada no final do ano passado.
Os indígenas exigem que ela seja sepultada definitivamente (saiba mais).
Qualquer um dos 170 deputados que assinaram o projeto pode pedir seu
desarquivamento. A bancada ruralista apresentou um requerimento com esse
objetivo ontem e, segundo Cunha, o Regimento da Câmara obriga-o a
acatá-lo automaticamente. “Não tenho poder ou competência legal para
acabar com a PEC 215 ou nenhuma outra PEC. Tenho de cumprir o
Regimento”, afirmou o peemedebista.
De acordo com o presidente da Câmara, após o projeto ser
desarquivado, será necessário recriar a Comissão Especial que vai
analisá-lo. Cunha mencionou que há dúvidas sobre os prazos necessários
para o início das atividades do colegiado e o novo trâmite. O deputado
informou que será preciso discutir qual interpretação do Regimento deve
prevalecer sobre essa questão específica.
Por sugestão de parlamentares que participaram do encontro, Cunha
comprometeu-se a facilitar uma reunião entre deputados ruralistas e
socioambientalistas nas próximas semanas para discutir uma alternativa à
PEC.
Na avaliação de Sarney Filho (PV-MA) e Nilto Tatto (PT-SP), que
participaram da conversa com o presidente da Câmara, essa alternativa
poderia ser um projeto para regulamentar a indenização pela terra a
produtores rurais que ocupem áreas indígenas e tenham títulos fundiários
válidos. Ainda não há consenso sobre como isso poderia ser feito. A
Constituição garante, hoje, apenas o pagamento das benfeitorias aos
fazendeiros retirados de Tis.
“Os povos indígenas estão entendendo a PEC 215 como uma quebra do
contrato estabelecido com eles para garantir seus direitos na
Constituição de 1988. Se a PEC seguir tramitando, teremos toda a semana
uma manifestação aqui na Câmara contra o projeto”, advertiu Tatto. O
petista acredita que a análise e aprovação do projeto vão acirrar os
conflitos entre povos indígenas e produtores rurais. “Faremos tudo o que
estiver ao nosso alcance para que a Comissão Especial não seja aberta e
não funcione”, disse Sarney Filho.
Os deputados também pediram à Cunha que ele usasse de sua influência
para aprofundar a discussão sobre a PEC, permitindo que a sociedade
fosse ouvida sobre o assunto. O presidente da Câmara, todavia, apenas
repetiu vagamente que é favorável ao diálogo e ao consenso entre
ruralistas e povos indígenas e tradicionais.
Acordo
Cunha negou que tenha feito um acordo com os ruralistas para fazer
avançar a tramitação do projeto em troca de apoio à sua eleição para a
Presidência da Câmara, ocorrida no fim de semana. A demanda apenas teria
sido apresentada a ele.
O deputado Luiz Carlos Heinze (PP-RS) confirmou, no entanto, que
houve, sim, o entendimento com o peemedebista. “Vamos cobrar do
presidente esse compromisso”, destacou. Ele informou que os ruralistas
pretendem reapresentar o relatório de Osmar Serraglio (PMDB-PR) sobre a
PEC e vão defender a manutenção do parlamentar no cargo de relator. A
decisão sobre este último ponto depende do presidente da Câmara.
Heinze adiantou os outros pontos principais da agenda ruralista neste
início de ano, além da PEC 215: a instalação de uma Comissão
Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre a Fundação Nacional do Índio
(Funai); a aplicação da Portaria 303/2012 da Advocacia-Geral de União
(AGU), atualmente suspensa e que restringe vários dos direitos
indígenas; e a aprovação do Projeto de Lei (PL) 7.735/2014, que regula o
acesso aos recursos genéticos associados à biodiversidade (a votação do
PL foi marcada para a próxima segunda, 9/2).
“Queremos acabar com a PEC. Não queremos briga com os brancos, mas
eles é que estão caçando briga conosco”, comentou Dotô Takakiri Kayapó.
“Sabemos que estão sendo feitos acordos no Congresso sobre a PEC”,
completou. Ele avaliou que a aprovação do projeto será vista pelos povos
indígenas como um ato de guerra e ressaltou que eles irão se mobilizar
contra a proposta.
Por: Oswaldo Braga de Souza
Fonte: ISA – Instituto Socioambiental
Fonte: ISA – Instituto Socioambiental
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