O Ibama realizou, entre os dias 21 e 22 de janeiro, a soltura de 55
macacos-prego. Os animais deixaram o cativeiro onde viviam, alguns há
mais de dez anos, no Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) do
Ibama, em Seropédica, Rio de Janeiro. Eles foram levados para Guadalupe,
no interior do Piauí e reintroduzidos no ambiente natural de ocorrência
da espécie, em ilhas formadas pelo lago da Usina Hidrelétrica da Boa
Esperança.
Segundo a analista do Ibama e médica veterinária, Taciana Sherlock,
desde setembro do ano passado, técnicos do Instituto se mobilizaram para
que todas as condições necessárias ao transporte fossem atendidas. “Há
quatro meses estamos trabalhando na montagem da logística pra levar
esses animais, na reabilitação pra soltura. Eles passaram por exames de
saúde pra avaliar a presença de doenças como tuberculose, raiva, herpes.
Foi feito todo preparo pra levá-los de volta pra natureza”, diz.
A soltura faz parte do Projeto Sapajus (Macaco-prego), do Ibama,
iniciado em 2009, na Paraíba, que destina animais dessa espécie para
ilhas, que limitam o espaço de convivência, criando um ambiente de
semiliberdade. Um dos idealizadores, o analista do Ibama e médico
veterinário Paulo Wagner, relata que, com essa, já somam mais de 15
solturas, totalizando 250 animais devolvidos à natureza. Paulo diz que a
opção por ilhas em áreas de proteção ambiental tem o objetivo de
proporcionar um ambiente mais seguro para os animais. “Ali é um local em
que eles têm mais tranquilidade, mais segurança, sem predadores. Depois
de muito tempo vivendo em celas, eles vão viver um bom tempo nessas
ilhas, num ambiente natural de novo”, diz.
Os animais serão monitorados durante três meses para avaliar a
adaptação ao local. Segundo Paulo Wagner, como eles não estão
acostumados com a vida selvagem, passam por um período de
experimentação, mas reaprendem a sobreviver de forma natural. Ele diz
ser importante que esses macacos não tenham mais contato com humanos.
“Algumas pessoas acham que os animais vão passar fome porque nas ilhas
não há frutas, mas, na verdade, na natureza eles não se alimentam de
frutas, eles comem folhas, sementes, raízes, ovos, insetos, essa é a
alimentação natural deles, é importante que ninguém interfira”, afirma.
Parcerias com órgãos públicos e empresas privadas foram fundamentais
para o sucesso do trabalho. Para enfrentar o trânsito de Seropédica até o
Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, quatro carros do Ibama, que
transportavam as 11 caixas com os animais, foram escoltados pela Polícia
Rodoviária Federal. A empresa TAM Cargo cedeu espaço para o transporte
das caixas em três voos comerciais que foram do Rio de Janeiro à
Teresina. E a Força Aérea Brasileira realizou o restante do trajeto de
300 km até o Aeroporto da Companhia Hidroelétrica do São Francisco
(Chesf) em Guadalupe.
Os Centros de Triagem de Animais Silvestres são locais especializados
em receber, identificar e fazer a destinação apropriada de animais
provenientes de resgates, apreensões do tráfico e de entregas
voluntárias da população. O Ibama possui 23 Cetas em todo o país.
Segundo o analista do Ibama e médico veterinário, Daniel Neves, a
primeira opção de destinação de animais é a soltura, mas em alguns casos
isso não é possível. “A gente sempre tenta dar prioridade à devolução
dos animais pra natureza. Em casos de isso não ser possível, procuramos
outros locais, como criatórios ou zoológicos, locais onde podemos
colocar esse animal na melhor situação possível, já que ele não pode
retornar para o ideal, que seria o habitat dele”, diz.
Vinícius Mendonça
Ascom/Ibama
Fotos: RVasconcellos